terça-feira, 27 de setembro de 2011

Traição *Cibele Simões

    Falar sobre traição é sempre complexo e delicado, por se tratar de sentimentos e emoções nem sempre bem resolvidos para uma das partes ou ambas as partes. Em se tratando de casais cada um tem seus próprios acordos e formas de se relacionar. Portanto, cada caso é um caso literalmente falando, pois o casal encontrará seus próprios meios de se comunicar e solucionar os encontros e desencontros em um relacionamento independente de qualquer ideologia ou religião. Estas podem até influenciar, mas não determinar a direção que um casal vai escolher para o equilíbrio dinâmico da vida a dois.
    Não só os casados, mas os casais de namorados quando a traição acontece é hora de se perguntar:  É legal  levar adiante um compromisso, quando tudo mais está errado? Como diz Ivan Martins (2011), existe a paixão que nos consola das nossas questões interiores. Das nossas dores permanentes. Da nossa ansiedade intolerável. Por algum tempo ela nos distrai de nós mesmos. É uma fuga que tende a se repetir. Gente angustiada e indecisa faz isso o tempo inteiro: troca de parceiro e de paixão sem conseguir trocar o essencial em si mesmo. Um belo dia elas acordam, percebem que a velha dor está lá, e vão embora, atrás de outra paixão que consiga preencher o buraco impreenchível.
Qual é a moral dessa história?
    Que talvez tenhamos de desconfiar de nós mesmos e de nossas razões, pois de uma forma silenciosa e quase inconfessável, muitos continuamos esperando que o amor, ou seja, o próximo amor vai solucionar repentinamente, nossa vida. Talvez não passe de uma requintada muleta ou de uma ilusão. Quem sabe um analgésico para questões que estão mal resolvidas internamente com cada parceiro fazendo com que ambos depositam suas frustrações no relacionamento amoroso.
    É por isso que fazemos escolhas. Podemos caminhar em direção a uma mulher ou a um homem e iniciar uma conversa, que será repelida e ou acolhida. Ou  podemos decidir que essa fantasia/desejo, vai passar sem deixar marca na realidade. As fantasias/desejos mostram sim que estamos vivos. Mas o que decidimos fazer a partir delas – ou a despeito delas – decide como será a nossa vida real. E essa é a parte que conta.
    Não sei se podemos afirmar que uma traição é sinal de imaturidade e falta de responsabilidade ou prova de que não se sabe amar e que seja sinal de egoísmo em que se aceita destruir o sentimento do outro para viver uma nova aventura amorosa como disse Felipe Aquino (2010). Mas pode ser sinal de rever como anda o relacionamento e dependendo do casal a traição pode ser o avesso das regras ditadas pela sociedade, onde a mesma pode até ter espaço na relação, o que contraria o discurso moralmente aceito. Portanto, quando falamos de relacionamentos e vivenciamos na prática o atendimento terapêutico de casais, não podemos ter um pensamento simplista e linear da situação, pois se para uns a traição é o fim de um relacionamento para outros é o começo de uma relação mais madura!!!
*Psicóloga Social e Clínica (Psicoterapeuta Sistêmica)

Bibliografias:
AQUINO, Felipe. A gravidade da traição no namoro. Disponível:  http://cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=11931. Acesso 21/08/11.
MARTINS, Ivan. Quando o amor é distração. Disponível: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI252338-15230,00-QUANDO+O+AMOR+E+DISTRACAO.html. Acesso 21/08/11.