terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Objetivo da Psicoterapia

     O objetivo principal da Psicoterapia é despertar o desejo de movimento e atualização em direção à saúde, bem como, trabalhar o ser humano de forma concreta e não fragmentada como um todo levando em consideração aspectos físicos, emocionais, mentais e relacionais. Para Maturana (1997), a efetividade da psicoterapia, individual ou familiar, se baseia no fato de que, no fluir emocional a que ela necessariamente leva, terapeuta e cliente podem derivar em um espaço de convivência a partir do qual o espaço conversacional cotidiano do cliente possa mudar.
     Desta forma, o psicólogo clínico seja qual for a sua formação acaba por fazer um movimento mais amplo, pois a própria prática lhe conduz a uma mudança de postura devido às novas exigências, o que leva a um olhar sistêmico com uma multiplicidade de conexões. Enfim, deve-se caminhar para uma prática que englobe o sujeito, a família e o contexto sócio histórico enfatizando a relação entre eles, pois o sujeito não pode ser considerado isoladamente e sim numa visão dialética, contribuindo para diluir a cisão existente entre indivíduo e grupo, externo e interno, intrapsíquico e interacional.
     Com isso, as intervenções sejam em qualquer contexto não exigem regras pré-determinadas, pois não é uma técnica, mas uma ética do saber e do fazer terapêutico articulando a intervenção dirigindo-se ao(s) sujeito(s) a fim de proporcionar um bem dizer, sendo que os atendimentos focam nas possíveis soluções, criando condições de um potencial criativo para que o cliente/sistema possa vir a fazer mudanças necessárias no comportamento e/ou nas suas crenças e valores, isto é, mudanças diante do contexto, bem como do padrão de interação vigente no sistema ou na sua vida possibilitando que este faça suas próprias escolhas e aja com discernimento diante dos vínculos criados e/ou mantidos que lhe pareçam mais adequados ou desejáveis.

“Aceitar que aquilo que nasce em nós não está unicamente ligado à nossa própria história, mas tem igualmente um sentido e uma função com relação ao sistema terapêutico onde esse sentimento aparece”. Mony Elkaim.

Referências Bibliográficas

ELKAIM, Mony. Panorama das terapias familiares. Volume 1. São Paulo: Editora Summus, 1998, seção II.
MATURANA, H. Ontologia do conversar. In: MAGRO, C., GRACIANO, M. (orgs). A ontologia da realidade. Belo Horizonte: UFMG, 1997.

Quando Procurar um Psicólogo(a):

-Alguns conflitos na relação, que comumente são demandas para o serviço de psicologia:

*Relacionamentos com familiares (pai, mãe, marido/esposa, filhos, avós, tios);
*Acontecimentos familiares marcantes (adoções, perdas, doenças psiquiátricas, mortes precoces,  assassinatos, suicídio, abortos, abuso/ofensa sexual, entre outros);
*Relacionamento interpessoal (sexualidade, amantes, parceiros amorosos e sexuais, amigos, colegas);
*Problemas de saúde (dores crônicas, obesidade, depressão, câncer, problemas cardíacos, entre outros);
*Envolvimentos com drogas, alcoolismo, tabagismo;
*Conflitos profissionais com chefes, colegas, empresas;
*Questões empresariais e administrativas (abertura de empresa; fracasso X sucesso; perda financeira; dificuldades na liderança; mudanças de carreira; recolocação profissional).


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ansiedade X Valores *Cibele Simões

    Desde o nascimento o homem está envolvido em processos de interações, em que inicia-se na família e posteriormente com o  grupo social. Aprendemos a interiorizar uma série de valores socialmente aceitos, e nesse processo de interiorização cria-se identidades individuais e coletivas. 
    A mudança nas relações sociais e na história de vida determina o processo contínuo na definição de "si-mesmo", nesse sentido o sujeito deixa de ser algo estático e acabado para ser ato e não resultado.
    O desenvolvimento do ser humano sofre transições críticas, e geralmente não assumimos ter passado por alguma crise, pois a nossa cultura interpreta a palavra crise como um fracasso pessoal, mas são nos momentos de  crise, que vamos construindo nossos valores, que por vezes parecem ameaçados, causando  ansiedade. Desta forma, temos que descobrir a essência de quais valores são autênticos, pois senão somos uma repetição dos valores impostos pela sociedade e não ultrapassamos o nosso limite de "estar sendo" no mundo.
    A ansiedade está ligada a cultura, pois existe uma divisão entre sujeito/objeto, e a nossa tendência é cristalizarmos os nossos valores em dogmas, o que causa frustrações em uma época de transformações destes valores, sendo uma segurança temporária diante a nossa renúncia de crescimento e criatividade.
    Nesse sentido, temos que experiênciar a ansiedade. Portanto, quanto mais firmes e flexíveis forem os nossos valores, mas aptos estamos para enfrentarmos a ansiedade, isto é, quanto mais maduros são os valores do sujeito, menos importante é, se esses valores são literalmente satisfeitos, pois o que importa é a busca e não a descoberta de um valor sobre o outro.
    Enfim, o que importa é o aqui-e-agora, o passado é referência, mas não fixa o modo de ser, em que somos sujeitos da realização, atualização e pontencialização para nos reinventarmos a cada momento o que trás angústia e ansiedade.

*Psicóloga Social e Clínica (Psicoterapeuta  Sistêmica)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O desejo da doença ou a doença do desejo? *Cibele Simões

   É necessário repensar o processo de doença, não como algo somente biológico, mas que faz parte de uma construção histórica e socialmente determinado por relações de saber-poder. Desta forma, as práticas destinadas á loucura, ou seja, o saber psiquiátrico sobre a doença foi criado para intervir nas classes, em que a política de saúde atuava na erradicação das epidemias, bem como na vigilância sanitária. Com isso á loucura estava associada a doença e as técnicas e tratamentos de acordo com as concepções médicas que buscavam a cura, o controle, sendo segregacionista.
   A loucura permeia todas as classes, mas acaba perpetuando uma relação excludente entre a população, pois as políticas públicas destinadas a tal controle são marginalizadoras, em que o termo loucura foi criado para a exclusão, deixando de ser apenas doença. Diante disso, vemos os agentes do saber reproduzindo determinada ideologia, querendo moldar, rotular, conter e ao mesmo tempo incluir o desviante. Que concepção de loucura/doença é essa?
   Neste sentido é importante rever o papel do psicólogo, pois este é convocado a atuar somente quando se percebe a intromissão da subjetividade no cenário médico, onde parece existir uma destituição (exclusão) da subjetividade do sujeito, (o doente atrapalha o médico a entender a doença), porém o que o médico nega na teoria reaparece na prática.
   Sabemos que a medicina social não surgiu de uma medicina privada e individualista, mas de uma preocupação com o meio (contexto), assim como o efeito deste sobre o organismo e com o organismo em si. Tinha o caráter de uma organização social mais voltada para a comunidade.
   O contrário do que presenciamos no contexto atual, uma medicina que atende ao mercado, em que cuida-se da doença do que do doente. O médico na medicina tradicional relaciona-se com partes isoladas do doente, sem de fato vê-lo enquanto pessoa, mas como coisa/objeto. Com o surgimento da medicina clínica o médico é convidado a considerar não só o rigor técnico e teórico, mas a linguagem (o relato do paciente), isto é, construir junto com este o conhecimento/significado sobre sua doença.
   Diante disso, não podemos deixar de nos implicar enquanto profissionais da área de saúde, quando a clínica da demanda é formulada em palavras, em que a escuta proporciona um saber sobre o desejo e não sobre a doença, ou seja, proporcionamos ao sujeito dialetizar, onde seu desejo entra em questão deixando de ser objeto (fixado a doença) para surgir como ser.
   Então fica a questão: Será que é somente o médico que tem dificuldade em ouvir e coloca-se no lugar endereçado a ele do suposto-saber?
   A relação médico x psicólogo nem sempre favorece o cliente, pois o olhar e o ouvir sobre o sujeito são diferenciados. O que se percebe é que a presença do psicólogo garante que o médico continue excluindo a subjetividade, que por sua vez, a exclusão da subjetividade por parte deles é o que garante a presença do psicólogo.
   Acredito, que o cliente deve ser percebido como um indivíduo total, onde o trabalho multiprofissional quem sabe seja a receita para o processo de reavaliação e o repensar de novas formas de lidar com o sujeito. A integração dos profissionais na área da saúde, trabalhando a totalidade do cliente, talvez terá um resultado mais favorável do que ver este como um quebra-cabeças.
   Trabalhar com uma equipe interdisciplinar não significa buscar uma síntese de saberes, mas a possibilidade de diálogo entre os diversos saberes sem uma hierarquia estabelecida.
   Portanto, questionar se no contexto hospitalar/clínico existe possibilidade de outras formas de intervenções é repensar na atuação da psicologia de maneira mais ampla, através não só de uma reflexão da extensão dos conceitos, mas da prática.
   Enfim, é pensar na possibilidade de uma construção efetiva da prática/atuação na clínica do social com um novo olhar, sem desmerecer os conceitos e práticas historicamente determinados e socialmente construídos, que perpassa essa dimensão com suas peculiaridades.

*Psicóloga Social e Clínica (Psicoterapeuta Sistêmica)




segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Alienação Corporal Frente à Cultura de Consumo na Padronização do Corpo Feminino *Cibele Simões

"Meu corpo não é meu corpo. É ilusão de outro ser.."
 Carlos Drummond de Andrade.
     
    Pensar no comportamento humano relacionado ao cuidado com o corpo implica na tentativa de resgatar o sentido de existência que se perdeu nos critérios da modernidade: superação, perfeição, consumo. Desta forma, os mitos da beleza feminina, da juventude eterna, através da cultura da “malhação” como grande projeto do ser humano parecem constituir grandes ilusões, o que pode levar à ansiedade, baixa autoestima estando mais associado ao “ódio” do que o amor ao “eu”, pelo fato de não conseguir alcançar um corpo perfeito.
    Diante disso, o discurso do culto ao corpo atinge tanto homens quanto mulheres, mas parece ser estas últimas que mais se sentem insatisfeitas com sua aparência, buscando suprir esta falta nas práticas corporais, pois o corpo destas é mais controlado, isto é, cobrado do que o do homem quando se refere à beleza física. Apesar de se sujeitarem aos padrões hegemônicos da sociedade, ou seja, aos valores estéticos incorporando-os, também sentem a necessidade de cuidar do corpo associado à saúde.
     Nesse sentido, o comportamento das mulheres com seu corpo se divide em um cuidado visando uma maior beleza estética e um cuidado que objetiva uma melhora na saúde. Percebe-se, então, que a mulher está investindo em sua aparência e ao mesmo tempo na saúde, devido tanto a uma necessidade que a sociedade impõe, quanto à busca de um bem estar pessoal.  
      Apesar de existir pessoas obcecadas pelo culto ao corpo, existem àquelas que têm distanciamento crítico suficiente para fazer escolhas que lhe pareçam conveniente, pois fazem suas próprias leituras dos fenômenos sociais, em que se sentem influenciadas, mas não escravas de certo comportamento.
      Associado à busca por um corpo em forma aparece o discurso de gênero como algo determinado e não construído, tendo uma representação social e psicológica, em que o homem é designado como dominador, sexo forte, não podendo exagerar nos cuidados com o corpo, pois coloca em dúvida a sua masculinidade, e a mulher como subordinada, sexo frágil, tendo a obrigação de ser ou se fazer bela.
      Desta maneira, a mulher parece estar tão presa nessa relação de poder do cuidado sobre o seu corpo que não percebe saída, ou seja, está submetida a um lugar que em sua constituição está associado a uma possível submissão feminina aos estereótipos de gênero, através da tríade beleza-saúde-juventude, cobrando ser uma mulher perfeita com todos os seus atributos instituídos: sensual, sensível, frágil, dentre outros. 
      Pode não parecer evidente, mas as relações das mulheres com seus corpos revelam o tipo de identidade que se está construindo, pois a mulher se submete a explicitar a beleza do corpo por sua juventude, sua juventude por sua saúde, sua saúde por sua beleza. Deste modo, acabam sustentando uma identidade pautada pela identificação da beleza feminina através da exterioridade do seu corpo. Conseqüentemente, sentem-se insatisfeitas por não alcançarem um corpo considerado ideal.
      Portanto, não se trata de aceitar o corpo como ele é, mas de corrigi-lo, transformá-lo e reconstruí-lo. O indivíduo contemporâneo busca em seu corpo uma verdade sobre si mesmo que a sociedade não consegue lhe proporcionar, se é que algum dia conseguiu! Ao mudar o corpo, mesmo não sendo de forma intensa, busca transformar a sua relação com o mundo, multiplicando os seus personagens sociais.
      A sociedade do espetáculo, cada vez mais poderosa, exige a aparência física em dever e responsabilidade de cada indivíduo. O corpo torna-se o lugar da salvação, sendo uma forma de não passar despercebido, uma maneira de destacar-se na cena social. Quando o laço social se desfaz, quando o individualismo se expande, somente o olhar do outro pode nos proporcionar uma verdadeira existência social, como se a aparência fosse um imperativo.
      Enfim, a sociedade de consumo e o seu principal meio de veículo, a mídia acabam fabricando e produzindo desejos e sujeitos insaciáveis em sua demanda de consumo, incluindo neste contexto o corpo desejante e desejado, sendo a falta o reflexo da nossa cultura em plena metamorfose. 

*Psicóloga Social e Clínica (Psicoterapeuta Sistêmica)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Atritos

   Ninguém muda ninguém; ninguém muda sozinho; nós mudamos nos encontros.... Simples, mas profundo, preciso. É nos relacionamentos que nos transformamos. Somos transformados a partir dos encontros, desde que estejamos abertos e livres para sermos impactados pela idéia e sentimento do outro. Você já viu a diferença que há entre as pedras que estão na nascente de um rio, e as pedras que estão em sua foz? As pedras na nascente são toscas, pontiagudas, cheias de arestas. À medida que elas vão sendo carregadas pelo rio sofrendo a ação da água e se atritando com as outras pedras, ao longo de muitos anos, elas vão sendo polidas, desbastadas.
   Assim também agem nossos contatos humanos. Sem eles, a vida seria monótona, árida. A observação mais importante é constatar que não existem sentimentos, bons ou ruins, sem a existência do outro, sem o seu contato.  
   Quando olho para trás, vejo que hoje carrego em meu ser várias marcas de pessoas extremamente importantes. Pessoas que, no contato com elas, me permitiram ir dando forma ao que sou, eliminando arestas, transformando-me em alguém melhor, mais suave, mais harmônico, mais integrado. Outras, sem dúvidas, com suas ações e palavras me criaram novas arestas, que precisaram ser desbastadas. Faz parte...
   Reveses momentâneos servem para o crescimento. A isso chamamos experiência. Penso que existe algo mais profundo, ainda nessa análise. Começamos a jornada da vida como grandes pedras, cheia de excessos.  Os seres de grande valor percebem que ao final da vida, foram perdendo todos os excessos que formavam suas arestas, se aproximando cada vez mais de sua essência, e ficando cada vez menores, menores, menores...
  Quando finalmente aceitamos que somos pequenos, ínfimos, dada a compreensão da existência e importância do outro, é que finalmente nos tornamos grandes em valor. Já viu o tamanho do diamante polido, lapidado? Sabemos quanto se tira de excesso para chegar ao seu âmago. É lá que está o verdadeiro valor .  Mas temos que aprender como. Para chegarmos a esse âmago, temos que nos permitir, através dos relacionamentos, ir desbastando todos os excessos que nos impedem de usá-lo, de fazê-lo brilhar. Por muito tempo em minha vida acreditei que amar significava evitar sentimentos ruins.
   Não entendia que ferir e ser ferido, ter e provocar raiva, ignorar e ser ignorado faz parte da construção do aprendizado. Não compreendia que se aprende a amar sentindo todos esses sentimentos contraditórios e os superando. Ora, esse sentimentos simplesmente não ocorrem se não houver envolvimento...
   E envolvimento gera atrito. Minha palavra final: ATRITE-SE! Não existe outra forma de descobrir o outro sem se envolver e se relacionar com ele.

Roberto Crema (Psicoterapeuta)

Traição *Cibele Simões

    Falar sobre traição é sempre complexo e delicado, por se tratar de sentimentos e emoções nem sempre bem resolvidos para uma das partes ou ambas as partes. Em se tratando de casais cada um tem seus próprios acordos e formas de se relacionar. Portanto, cada caso é um caso literalmente falando, pois o casal encontrará seus próprios meios de se comunicar e solucionar os encontros e desencontros em um relacionamento independente de qualquer ideologia ou religião. Estas podem até influenciar, mas não determinar a direção que um casal vai escolher para o equilíbrio dinâmico da vida a dois.
    Não só os casados, mas os casais de namorados quando a traição acontece é hora de se perguntar:  É legal  levar adiante um compromisso, quando tudo mais está errado? Como diz Ivan Martins (2011), existe a paixão que nos consola das nossas questões interiores. Das nossas dores permanentes. Da nossa ansiedade intolerável. Por algum tempo ela nos distrai de nós mesmos. É uma fuga que tende a se repetir. Gente angustiada e indecisa faz isso o tempo inteiro: troca de parceiro e de paixão sem conseguir trocar o essencial em si mesmo. Um belo dia elas acordam, percebem que a velha dor está lá, e vão embora, atrás de outra paixão que consiga preencher o buraco impreenchível.
Qual é a moral dessa história?
    Que talvez tenhamos de desconfiar de nós mesmos e de nossas razões, pois de uma forma silenciosa e quase inconfessável, muitos continuamos esperando que o amor, ou seja, o próximo amor vai solucionar repentinamente, nossa vida. Talvez não passe de uma requintada muleta ou de uma ilusão. Quem sabe um analgésico para questões que estão mal resolvidas internamente com cada parceiro fazendo com que ambos depositam suas frustrações no relacionamento amoroso.
    É por isso que fazemos escolhas. Podemos caminhar em direção a uma mulher ou a um homem e iniciar uma conversa, que será repelida e ou acolhida. Ou  podemos decidir que essa fantasia/desejo, vai passar sem deixar marca na realidade. As fantasias/desejos mostram sim que estamos vivos. Mas o que decidimos fazer a partir delas – ou a despeito delas – decide como será a nossa vida real. E essa é a parte que conta.
    Não sei se podemos afirmar que uma traição é sinal de imaturidade e falta de responsabilidade ou prova de que não se sabe amar e que seja sinal de egoísmo em que se aceita destruir o sentimento do outro para viver uma nova aventura amorosa como disse Felipe Aquino (2010). Mas pode ser sinal de rever como anda o relacionamento e dependendo do casal a traição pode ser o avesso das regras ditadas pela sociedade, onde a mesma pode até ter espaço na relação, o que contraria o discurso moralmente aceito. Portanto, quando falamos de relacionamentos e vivenciamos na prática o atendimento terapêutico de casais, não podemos ter um pensamento simplista e linear da situação, pois se para uns a traição é o fim de um relacionamento para outros é o começo de uma relação mais madura!!!
*Psicóloga Social e Clínica (Psicoterapeuta Sistêmica)

Bibliografias:
AQUINO, Felipe. A gravidade da traição no namoro. Disponível:  http://cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=11931. Acesso 21/08/11.
MARTINS, Ivan. Quando o amor é distração. Disponível: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI252338-15230,00-QUANDO+O+AMOR+E+DISTRACAO.html. Acesso 21/08/11.

A relação conjugal a partir do olhar sistêmico psicodinâmico *Cibele Simões

      Pensar no modo de como engajar terapeuticamente com os clientes que procuram ajuda implica rever o que significa ser um casal e a recontextualização das possibilidades de relação a fim de proporcionar um atendimento mais coerente diante da necessidade vivida pelo sistema e se for o caso redefinir o pedido de ajuda terapêutica em atendimento familiar, de casal ou mesmo individual.
      A investigação de como se estabelece a relação entre individualidade e conjugalidade quando existe a presença de filhos leva os casais a aprenderem novos papéis (funções) relativos à maternidade e à paternidade. Pode-se perceber que a tentativa de conciliação das individualidades e conjugalidades, torna-se um grande desafio e uma possível fonte de conflitos evidenciando problemas de comunicação na dinâmica de alguns casais.
      Sabemos que a comunicação disfuncional afeta as relações e que os desentendimentos entre casais estão no nível do conteúdo e na ordem da mensagem que se quer passar, sendo relevante abrir-se a novos significados do comportamento do casal que são expressos via comunicação verbal e/ou não verbal.
      Diante disso, é necessário permitir que os clientes descubram formas de pensar, sentir e comportar-se mais pessoalmente de maneira satisfatória e mais coerente com as novas necessidades da vida em família visualizando as inter-relações, ou seja, o que se passa “entre” as pessoas significativamente vinculadas, levando-as assumirem papéis e funções que as influenciam decisivamente nas suas escolhas e no desenrolar de suas histórias em comum.
      Nesse sentido, toda família é um sistema independente da abordagem que direciona o fazer terapêutico na prática seja em âmbito público ou privado, bem como na clínica particular ou nas instituições sociais.
      Desta forma, é importante redimensionar o discurso do sujeito para que este construa outros significados diante da sua história de vida criando outras possibilidades de narrativas e agir de maneira diferente do que está acostumado, isto é, criar o repertório e a oportunidade para que se questione e busque caminhos desejáveis para fazer suas próprias mudanças.
      Ao redimensionar este discurso diante das perspectivas abertas pela modernização muitas vezes é constatado de maneira implícita que a dinâmica de alguns casais é manter a relação para justificarem para si mesmos e para a sociedade que, mesmo em um mundo de incertezas, eles estão mantendo um relacionamento duradouro.
      Apesar de perceberem a fragilidade do casamento gerado pelos conflitos da liberdade individual, em que a possibilidade de viver sem depender do outro cria desencontros na relação conjugal leva o casal a duvidar que a própria vivência desta liberdade possa ajudar na busca das suas individualidades associada à conjugalidade.
      Isto pode revelar que a formação da identidade pessoal em parte tem a ver com as afinidades e semelhanças, porém são as diferenças e oposições que permitem formar, testar e consolidar o “eu diferenciado”.
      Outro ponto considerado seria a questão do casal igualitário como um modelo ideal na construção dos relacionamentos conjugais na Pós-Modernidade, ou seja, uma forma de relação que tenta aniquilar as diferenças dos papéis de gênero, estimulando um ideal de liberdade e não coerção às regras sociais. Apesar de alguns casais apresentarem algumas tendências do discurso pós-moderno ainda traz elementos do exercício dos papéis rígidos de gênero exigidos pela sociedade para homens e mulheres.
      Desta maneira, a Pós-Modernidade é marcada por inúmeras tensões, em que os indivíduos se orientam de forma ambígua ou ambivalente, ora pelos antigos padrões de comportamento, ora pelos ideais de mudanças trazidos no discurso pela sociedade. O que gera necessidade de se buscar na relação conjugal segurança e que, ao mesmo tempo, esta tal segurança pode ser sentida como um obstáculo no desenvolvimento da autonomia da individualidade em relação com a prática da conjugalidade. Contudo, os indivíduos não perderam suas capacidades de sentir, criar e produzir mudanças mesmo desejando algum tipo de segurança e estabilidade.
     Não se propõem transformar duas individualidades em uma singularidade, através da complementaridade absoluta na relação, mas considerar que a fragmentação e os limites estabelecidos pela individualidade incorporaram a visão de mundo e, conseqüentemente reflete nos relacionamentos amorosos. Assim como no casamento, a família assumiu novas formas, tornou-se plástica, flexível, fazendo e refazendo seus limites.
      A hierarquia entre os homens e as mulheres deixou de ser pensada como pertencente à ordem natural, passando a ser vista como decorrente do mundo social. Acredito que este foi o fundamento da concepção de igualdade conquistada no mundo público do mercado da cidadania, sobre o qual a desigualdade sexual moderna estruturou-se apesar de alguns casais vivenciarem no cotidiano da relação elementos dos papeis rígidos de gênero.  
      A tentativa de ruptura da dicotomia entre público e privado segundo o gênero não resolveu os dilemas das desigualdades e diferenças entre homens e mulheres, mas mudou seus fundamentos de legitimação.
      Este estado de coisas pode causar sensações de insegurança e desconforto, o que gera ansiedade e angústia aos indivíduos, e nem todos se percebem emocionalmente preparados para lidar com estas contradições.
      Portanto, os casais contemporâneos criam novas formas de convivência e organização na vida cotidiana, mesmo pautados pelos antigos padrões de comportamento mantendo o diálogo entre as formas tradicionais modernas e as práticas pós-moderna na permanente construção dos relacionamentos, em que as relações tornaram-se mais flexíveis e plurais.
      Espero, que este texto possa incitar à reflexão, através do qual transmite-se os movimentos de encontro e desencontro na vida a dois.  
     Movimentos estes nos limites do real e do imaginário, do absoluto e do relativo, onde repousam as vicissitudes de um relacionamento conjugal.

* Psicóloga Social e Clínica (Psicoterapeuta Sistêmica)